Nada mais apropriado do que os processos psicológicos que acompanham a guerra atual - notadamente a anarquização inacreditável dos critérios em geral, as difamações recíprocas, os surtos imprevisíveis de vandalismo e destruição, a maré indizivel de mentiras e a incapacidade do homem de deter o demônio sanguinário para obrigar o homem que pensa a encarar o problema do inconsciente caótico e agitado, debaixo do mundo ordenado da consciência.
Esta guerra mundial mostra implacavelmente que o homem civilizado ainda é um barbaro. Ao mesmo tempo, prova que um açoite de ferro está à espera,caso ainda se tenha a veleidade de responsabilizar o vizinho pelos seus próprios defeitos. A psicologia do individuo corresponde à psicologia das nações. As nações fazem exatamente o que cada um faz individualmente; e do modo como o individuo age, a nação também agirá. Somente com a transformação do individuo é que começará a transformar-se a psicologia da nação.
Até hoje, os grandes problemas da humanidade nunca foram resolvidos por decretos coletivos, mas somente pela renovação da atitude do indivíduo. Em tempo algum,meditar sobre si mesmo foi uma necessidade tão imperiosa e a única coisa certa, como nesta catastrófica época contemporânea. Mas quem questiona a si mesmo depara invariavelmente com as barreiras do inconsciente, que contém justamente aquilo que mais importa conhecer.
C. G. JUNG , Dezembro de 1916.